Discursos
Discurso Prof. Dr. Pe. Marcelo Batalioto, Diretor Geral da Faculdade Dehoniana
O que faz uma instituição celebrar cem anos? Como durar um século? Por certo, há inúmeras razões, mas só consigo elencar algumas:
1) O senso de realidade
Há inúmeras instituições de ensino muito mais recentes ou, se preferirem, mais jovens, que ostentam números aparentemente mais impressionantes. Um olhar mais imediatista ou pragmático poderia sugerir que não obtivemos tanto êxito. Afinal, depois de cem anos, sob determinados aspectos, não somos muito maiores hoje, do que a algumas décadas.
Entretanto, este não é o olhar mais adequado. Seja como for, a razão fundamental da existência da Faculdade Dehoniana continua sendo a mesma que motivou a primeira aula dada neste lugar no dia 15 de fevereiro de 1924.
Poderíamos ter avançado mais no cenário da educação no vale do Paraíba? Talvez sim. Contudo, há em nós um profundo reconhecimento do senso de realidade que tem orientado as gerações de diretores desta instituição a sempre priorizar a sua missão primeira, que é colaborar com a formação do povo de Deus, e mais especificamente na formação do clero. A fidelidade histórica a esta missão é uma das causas da nossa longeva existência. Sempre mantivemos o foco continua o mesmo.
2) A fidelidade carismática
De fato, a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus não se caracteriza por uma determinada obra, mas pelo amor reparador com que assume e desenvolve diversas missões em sintonia com as necessidades da Igreja. A Dehoniana não é a nossa única obra educacional. A Congregação atua nos mais diversos segmentos educacionais, do infantil ao superior. Entretanto, temos certeza que padre Dehon sente um orgulho especial em relação a nossa Faculdade. Não só porque ele é nosso patrono, mas, e principalmente, porque juntamente com Hales Cornes realizamos um projeto muito vivo em padre Dehon: que seus religiosos se dedicassem, também, de forma direta na formação do clero.
3) O equilíbrio
Em cem anos muitas coisas acontecem. A realidade muda substancialmente. Claro que a teologia (curso mais longevo) também passou por amplos processos de transformação. Somos uma instituição que pode ser analisada na perspectiva anterior e posterior ao Concílio. Um olhar sobre a história da teologia da Faculdade Dehoniana revela um senso de equilíbrio. Caminhando com a Igreja, é possível dizer que os professores que aqui estiveram, ainda que atingidos sob diversos aspectos pela realidade própria de cada tempo, se mantiveram numa linha de equilíbrio constante. E equívocos constatados foram corrigidos a seu tempo. Sempre atentos à realidade do nosso tempo, é da nossa natureza institucional não se deixar levar por modismos filosóficos, teológicos, acadêmicos, tecnológicos. Esta sensibilidade, no meu modo de ver, tem garantido a longevidade.
4) Uma missão compartilhada
A Dehoniana dura no tempo porque foi acolhida por tantas pessoas. Pessoas queridas têm colaborado secularmente com esta obra. Inúmeros professores e professoras partilharam e continuam partilhando nossa experiência carismática. Esta abertura oportuniza a pluralidade de ideias, perspectivas de saberes. Tudo isso é enriquecedor.
Reconhecemos também o empenho dos nossos colaboradores que, muito rapidamente, entendem que mais que um trabalho, participam de um carisma. Por isso, acrescentam ao nosso carisma suas dedicadas competências.
5) A missão é obra da Congregação (província)
Desde os seus remotos inícios a Congregação não mede esforços para formar religioso para a docência, para o magistério.
Sei que vocês sabem o quanto o estudo demanda empenho. Vocês já experimentam isso. Pois bem, o itinerário do stricto sensu é bastante exigente e sacrificante. E não tem faltado, nestas longas décadas, religiosos, que motivados pelo carisma, aceitam trilhar o caminho do aperfeiçoamento, sobretudo, filosófico e teológico com o intuito de colaborar nesta obra.
Além disso, é preciso reconhecer da parte da província, representada nos seus superiores, o enorme investimento feito nos religiosos que se dedicam aos estudos. Nossa província costuma dispor, não sem sacrifício, das melhores condições para dar a necessária segurança aos religiosos estudantes. Isso é caro, muito caro. No passado e no presente, somos formados nas melhores universidades do Brasil e do mundo. Para nossa vaidade? Não. Só responsabilidade. Afinal... a quem muito é dado... ou, de graça recebestes...
Somos animados pelo espírito oblativo.
6) Nossos alunos
Por fim, e não menos importante, faço referência aos nossos alunos. Não sobreviveríamos um século sem a confiança do nosso alunado.
Claro que vocês que estão cursando filosofia e teologia não se matricularam na Faculdade Dehoniana por escolha própria. Esse destino formativo já está pre-orientado às congregações e dioceses situadas nesta província eclesiástica. Entretanto, é preciso reconhecer que a continuidade se dá porque nossos alunos do passado, um tanto de seus formadores e superiores, reconhecem o trabalho que aqui é feito. Do contrário, não mais existiríamos. E vocês, quando forem formadores, superiores, bispos (...) também enviarão seus formandos porque reconhecerão o bem que aqui é feito.
É dito que pelos frutos se reconhece a árvore. É verdade. Nas minhas andanças tenho encontrado pessoas que, ao saber da minha missão na Dehoniana, se alegram em partilhar as saudosas memórias, recordar os professores de então, e agradecer a formação aqui recebida.
Orgulha-nos ao perceber que nossos alunos no clero ou não, fazem a diferença. (Recordar do testemunho do Manzzatto na PUC-SP).
Não se trata de um autoelogio, mas apenas a partilha de fazer parte de algo que tem história, por isso tem presente e tem futuro.
Devemos ser agradecidos pela herança que recebemos.